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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2021

Fragmentos

Encantador Sonoro Rememorar um salão na Lousã onde descansavamos no fim das férias de Verão; havia uma janela de sacada, através dela víamos quase todas as aldeias de xisto envolventes. No fim de Agosto ouvia-se o som de um amolador a anunciar o mau tempo ou, como nos contava para adormecer à sesta uma tia-avó nas suas estórias do último amolador da serra, a fazer justiça às panelas e aos fundos de tacho gateados. Insubstituível, encantador sonoro, munido do som da sua ocarina de barro vermelho percorria as ruas da vila na pasteleira de cesto farrusco, enferrujado nas tempestades. Versejador nato, dos poucos que anunciava a chegada de ocarina e não naqueles instrumentos de lata ou plástico habituais, muitas vezes, mesmo sem chapéus-de-chuva para consertar, íamos ao seu encontro só para o ouvir rimar, chamava-se António, inconfundível.

Laurie

 

Há uma Luz que nunca se apaga

Celebro a  ausência da violência  como no quadro Guernica a elegia da brandura que pisca na lâmpada escura intra-ocular imersa em fobias Condeno o vexar da disfunção nessa nuvem monótona ufana de nada, erma de suavidade, elevação Estás aqui comigo sem saber como escrevo-te ao sol dos dias solitários a ti que despertas o amor em quem te vê pitonisa da esperança que nos dias amanhece e que subsiste ao tempo como uma rocha in Revista Mural Sonoro como Laura do Céu, página 91, Junho 2021.

Fragmentos

[Necrópsia] Rio. A vontade é... Chorar. Violenta descarga, involuntária Do Corpo. Chorar, a retalho Rir, na necrópsia Seminua, voluntária A alma. Apresso os trâmites no desencontro. Um final de primeira classe Rio rio rio, e... Dou de ombros como se isso bastasse. Antes de fechar a porta leio: "é assim". Sobrevivente, mulher não levo o defunto nos ombros. [Necrópsia]

Fragmentos

Durante uma caminhada na manhã de ontem um amigo de filosofia dizia-me uma frase estafada, “viver é apreciar a vida nos seus belos detalhes”. Quase num nível de devoção próximo das experiências, emoções, estéticas defendidas nos postulados de Clive Bell e Jerrold Levinson. Mas, ter maneira de viver assim, a apreciar, se a vida não passar, de manhã à noite, de um extenso relatório de sobrevivência, contas por pagar, processos por cumprir, burocracias que empatam, torna-se um ininterrupto acto de resiliência, de querer muito manter fértil e são o nosso ‘jardim interior’. Nada, muito menos a vida, tem valor inerente e seria bom que nas escolas e universidades, quando se anda à deriva e o substantivo feminino na linha do horizonte é «precariedade», dissessem isso mesmo: — ‘Apreciem os feitos e os detalhes, sem quaisquer expectativas’. Mas até estes modos de vida podem já não produzir significados nos que os vivem. Soube há cinco meses que o filho de uma amiga, músico e investigador, a viv