Encantador Sonoro Rememorar um salão na Lousã onde descansavamos no fim das férias de Verão; havia uma janela de sacada, através dela víamos quase todas as aldeias de xisto envolventes. No fim de Agosto ouvia-se o som de um amolador a anunciar o mau tempo ou, como nos contava para adormecer à sesta uma tia-avó nas suas estórias do último amolador da serra, a fazer justiça às panelas e aos fundos de tacho gateados. Insubstituível, encantador sonoro, munido do som da sua ocarina de barro vermelho percorria as ruas da vila na pasteleira de cesto farrusco, enferrujado nas tempestades. Versejador nato, dos poucos que anunciava a chegada de ocarina e não naqueles instrumentos de lata ou plástico habituais, muitas vezes, mesmo sem chapéus-de-chuva para consertar, íamos ao seu encontro só para o ouvir rimar, chamava-se António, inconfundível.
pegada digital transitória; alguns fragmentos de escritos ora já publicados ora no prelo, de Soraia Simões de Andrade