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A mostrar mensagens de novembro, 2023

Fragmentos

 [...] Não se pode dizer que o pequeno burguês não tenha lido nada. Pelo contrário, leu tudo, devorou tudo. Só que o seu cérebro funciona como alguns aparelhos digestivos de tipo elementar. Filtra. E o filtro só deixa passar aquilo que é passível de nutrir a epiderme da boa consciência burguesa [...]* Assim começa, com esta epígrafe, o artigo que escrevi a convite da Revista Seara Nova para a edição de inverno com o título Poesia de rua em ritmo catatónico na década do betão .  *VS Editor, trad. Diogo Paiva

Fragmentos

[monólogos entre diálogos com amigos] Hoje há um frenesim de corrida à cultura. As pessoas passam uma vida infernal nesses meios, a ouvir conferências sem fim, inaugurações, saraus. Evidente que não vais dar espectáculo para quem te vai odiar, impressionar pessoas que se estão nas tintas para o que dizes.  Lutar contra isso é vão, e não somos de pedagogia, só nos interessa a anagogia. Eu não escrevo para evitar o futuro, Bradbury, mas para evitar o presente e o passado. Criamos o nosso espaço, onde decidimos como e com quem, não meramente por necessidade, primeiramente como ideal.

Fragmentos

O Imenso Comércio do Nada XIII:  moral intergeracional Ontem no café do meu bairro um vizinho, ex-militar, combatente de Abril, dizia-me no seu jeito encanitado: – O activismo de hoje crê ser o grande beneficiário do progresso. Acenei mais ou menos afirmativamente, mas com uma provocação: – O senhor estaqueou o andamento no Bloom d’ A Cultura Inculta ? Terei dito algo mais, circunstancial de certeza, não consigo sequer lembrar para poder reproduzir. Acho que o compreendo melhor hoje do que há um ano, altura em que me mudei para este bairro. Cada vez mais fala-se muito sobre pouco, é um falar à superfície, uma fala reservada sempre que se pode; garantindo alguma inviolabilidade a uma espécie de teleologia que se reconstrói ou metamorfoseia amiúde (sintomas de uma patogenia chamada capitalismo, diria um amigo). Sentem algum desdém pelos combatentes de Abril? Parece-me, antes, que tendemos a sobrevalorizar uma militância que uns tiveram certamente mas outros não, colhendo até hoje frutos