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A mostrar mensagens de novembro, 2022

Fragmentos

Escreve-se hoje muito acerca de muito pouco, o vosso principal talento é engordar, experimentar os filtros dos aparelhos móveis, e bisbilhotar desacatos bacocos no feicebuque. Em Bergen, junto à cidade do mar do Norte, protegidas pelos fiordes e pelas florestas, fugindo das banalidades inerentes à globalização, é que se está bem. KOC, a vossa melodia é fina e ácida, por isso não são popular uchos como muitos escreventes da vossa, e nossa, praça; não cabem nos axiomas nem na histeria falante do Sapir, nem nos falsos fora-da-caixa presos aos lagos de água salgada e com corpos ruins e ubuecos nascidos à beira-mar.

Fragmentos

nódoas que perderam força Estas nódoas repartidas  perderam a força dos fios de lã. Desmaiam no Outono condoídas  pela aspereza, tecedeiras mecânicas,  onde houve ovinos crespos,  samarras dos quatro costados  lavando, enxugando todo o litoral.  Antes as manchas dirigiam-se ao âmago.  Até ao centro de uma música preliminar  onde um ocarinista flutuava sem arruinar  ânsias de gravidade em pântanos barrentos.  Mas nem todas as utopias são leves.  Viradas para o que resta desse solo crescem fungos no soalho onde continuamos  a bater os pés, vedações à volta da cama e  enrolados no burel coçado, sem poupar a cortes,  sequer às lavagens da matéria em falta, acendemos  conflitos da superfície ao fundo que nos atinge.   O prazer austero no refúgio cresceu  como um borrão, labéu sem culpas  pese o devaneio a aquecer ainda  uma moldura insuportavelmente fria. Estas palavras, límpidas,  acesas para lá da convenção,  compreendidas por via de um sentido  último, muito além do artifício  dos contrá

Fragmentos

Assim como Goethe considera as cores uma das aventuras da luz, poderíamos considerar a embriaguez, como uma erupção triunfante da planta em nó s, Ernst Jünger , 1977 Paul Cezanne - óleo sobre tela (1881) no russo The State Hermitage Museum; Casas Junto a Estrada No dourado de vários metais líamos, escutávamos, marcações singulares.  Ângelo de Lima, João Pedro Grabato Dias, Laurie Anderson, Gil Scott-Heron, Günter Grass. Em dias distintos, por razões diferentes. Eram laços e desenlaces incontáveis abrigados numa salinha de um rés-do-chão.  Ritmos, tons, detritos, máscaras sonoras, causticidades, cinismos; por isso não era lá muito boa ideia desconsiderar aquele que melhor exprimiu a ideia, Paul Valéry, que um dia teve a coragem de dizer que quando ouvia o início da Parsifal tinha vontade  de partir a caneta por se sentir incapaz de fazer com as palavras o que os compositores faziam com os sons. É possível que reitere a confiança num futuro onde apenas as artes, musicais, escritas, plá

Fragmentos

lares fugidios fragmentos#1 Cumpre-me agora dizer que espécie de observadora tenho sido, não importa o nome persa de baptismo, nem outros detalhes que me digam respeito, é acerca do que observo, do carácter da minha observação, que se impõe descrever qualquer coisa.  Afirmo sem pruridos a minha crença na humanidade por crer na mobilidade de tudo, só a morte é inamovível; acredito que tudo é inseguro, desconhecido; ódio, amor, domínio e dominação; a sensação de inacabamento e superação coincidem, coexistem. Em terra, quando as ondas são maiores, ou os tamancos serôdios no ciberespaço balançam com maior agitação e as bocas espumam, hiberno.  Passei por Coimbra, Londres, Amesterdão, Lisboa. É sobre Lisboa que gostava aqui de falar: é uma aldeia de pategos que se vê permanentemente reflectida nos rostos e nas terras dos outros. Desde que qualquer coirão mal-pago metaforiza é a opinião lingueirão de canudo, dá para nada, dá-nos de tudo. Lisboa criou uma civilização de cretinos, o resto do p

fragmentos

pentagramas da guerra Nesta pauta bem se vê o que não contém. Uma melodia a perder vigor, sons, silêncios transfigurado mal em fenómeno desertor. Tudo o que a pauta detém se dissipa na escória mundana dos bem-afeiçoados. Nós, os outros, nós nos outros a sermos outros além de nós e dos outros. Activos inatentos à pauta fictícia da infinitude superada uma e outra morte. Todas as comparações do mundo imbecis são o desastre ideólogo, as vítimas astros, idealistas, vafros, cretinos na ocasião. Na pauta vê-se pouco do que convém. Depois do Outono alguém limpará ritos mudos. Os arranjos afinal não se arranjam sozinhos, nem as gavetas, as caixas de música, os vivos cadáveres refugiados. Todas as anástrofes do mundo são cretinas porque houvesse memória em nós do instinto teu a guerra seria fruto não comestível, caducos os misantropos, os intransigentes, essas fundamentalistas mnemónicas. Moogs no fundo da noite pior oscilaram reverberam no grés, a polir ditongos solertes despontaram sons conhec

Acúleo

mal altruísta * Melhor ser insuspeita que amada. Melhor ser insuspeita que... amada. Quimeras secam alvéolos quando abelhas param de zumbir. Já a elegância alonga a biografia e as formas... O corpo é e não é incólume aos zunidos tão pecos e pegajosos como o mel. Um fiasco afundado no crepúsculo da serra, patos a trinar com fastio, anjos empedrados abandonados à sorte num qualquer jardim. Em todos os nossos lugares tacteamos movimentos perpétuos. Não esquecemos de petrechar as máculas no lago, de comparar o ritmo do coração com o do vício. De enfrentar um perigo comum às vidas de todas as espécies reflectindo-o num horizonte algo difuso. Bandacamp: https://aculeo.bandcamp.com/album/ac-leo _________________ textos/poemas, interpretação, arranjos: Soraia Simões de Andrade* música, arranjos: João Diogo Zagalo músicos: Fernando Ramalho, Gonçalo Zagalo, João Diogo Zagalo mistura: Fernando Ramalho, masterização: Gonçalo Zagalo vídeo: Soraia Simões de Andrade captação voz: Paulo Lourenço Apre

Fragmentos

[baús familiares] o que gosto destes acabamentos, desta gramagem, destas encadernações que atravessam muitas vidas e se mantêm, espantosas... [inusitados] Recebi há dias uma oferenda catita de alguém que muito prezo, somos muitos, de várias gerações, que o acompanharam e com ele dialogaram nas suas propostas artísticas, vinha assinado com dedicatória, dizia assim: "para a Soraia, a real e turbulenta amizade de um admirador"... Se calhar até é costume, mas prefiro acreditar que é alguém que, apesar da provecta idade, não deixou nunca a vida para depois julgando-se eterno, como tal anda aqui a viver as coisas e não a evidenciar-se fingindo que as vive.

Fragmentos

[disritmia] Há dias que parece que estou em transe de confissão. A meses de apagar o sinal da internet, ou fechar uma página [as]social como agora se diz, como se estivesse a fechar a porta de uma casa de onde fomos despejadas, e, finalmente, deixar de ouvir o banzé de uns tamancos pavorosos e serôdios neste corredor do ciberespaço.  Ir pelo cais fora e regressar à terra, molhada; voltar às pessoas, de osso, carne, saliva, veias, como à liberdade: imperativo.  Escreveu Roland Barthes que "as palavras nunca são loucas, são, quando muito, perversas", é "a sintaxe que é louca". Saber cedo que não há qualquer hipótese de ser atreita a cliques  –  defeitos ou efeitos de personalidade  – , faz com que queiramos abandonar a ideia de ter outros a falar por nós. Podia, assim, ter dispensado Barthes na frase anterior e as afinidades de Goethe. Isto é fundacional, tanto que o aprendi antes dos livros de ouvido por um dos meus avós. Não temo pela vida como pelo seu fim. Há, ain