Avançar para o conteúdo principal

Fragmentos


[disritmia]
Há dias que parece que estou em transe de confissão. A meses de apagar o sinal da internet, ou fechar uma página [as]social como agora se diz, como se estivesse a fechar a porta de uma casa de onde fomos despejadas, e, finalmente, deixar de ouvir o banzé de uns tamancos pavorosos e serôdios neste corredor do ciberespaço. 
Ir pelo cais fora e regressar à terra, molhada; voltar às pessoas, de osso, carne, saliva, veias, como à liberdade: imperativo. 
Escreveu Roland Barthes que "as palavras nunca são loucas, são, quando muito, perversas", é "a sintaxe que é louca".
Saber cedo que não há qualquer hipótese de ser atreita a cliques – defeitos ou efeitos de personalidade , faz com que queiramos abandonar a ideia de ter outros a falar por nós. Podia, assim, ter dispensado Barthes na frase anterior e as afinidades de Goethe. Isto é fundacional, tanto que o aprendi antes dos livros de ouvido por um dos meus avós. Não temo pela vida como pelo seu fim.
Há, ainda, uma diferença entre afinidade electiva e não ter a coragem de assumir um ponto de vista diferente ou próprio, mesmo quando, eventualmente, para isso temos de matar os nossos mestres.
Estou em contra-ritmo. 















Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fragmentos

O imenso comércio do nada XXVI Talvez nos pareça ainda que uma das mais potentes formas de contracultura a partir dos anos dois mil seja o uso da internet. Sítio de poucas cedências ou barreiras, goza de similitudes com as demandas utópicas e libertárias da geração de sessenta; a mesma aura dos espíritos contestatários e livres de divisões classistas, porém, e mais cedo do que eventualmente previra, como sucedera a outras derivas antes do virtual, também essa ideia foi capturada por uma cultura reformatória e conformista. O interesse crescente por discos e livros de um período da história ou de outras latitudes geográficas traduzirá certamente o apreço por assuntos como os da coacção da censura e resistência ao salazarismo ou outras ditaduras, as críticas a uma ortodoxia neo-hiper-realista, os imperativos arquivísticos e éticos da literatura e da música proibidas e, de modo um pouco mais subtil, o sujeito poético em comunhão com a mimesis quotidiana , a recriação imaginária a partir...

Fragmentos

 Meu discurso é o silêncio, meu canto o grito "A utopia existe sempre à custa da vida real" P arece não ser só uma tradução. Tendo como motivação poemas, dramaturgias, entrevistas de Müller, ensaia-se. Tira-se o rastilho tensivo às cordas de uma, de muitas, das guitarras deixada pelo escritor-dramaturgo e ...1, 2, 3... Ou, melhor,  eins zwei drei : Fernando entra com um  acorde suspenso , que  adiante se transformará em quinta justa e antes do previsto puxa do  dó aumentado, temos a tríade montada, dó, mi, sol; malhas entrecruzadas, renovadas sinestesias. E o que se segue é insinuante, retemperante, e muito sóbrio: o organizador desta edição no encalço de trechos capazes ainda de pegar fogo entre ouvintes, leitores, espectadores.   "[...] a Machstraße/Nem a sua academia das Ciências/Com a queda do despotismo asiático [...]".  Num tal excitamento de frequências a que é impossível ficar indiferente, extravasam-se barreiras datáveis; no sentido de ao apre...

Fragmentos

       O criador de estrelas religa-nos à cosmologia, ao porvir. Entre pessoas e estrelas, a cegueira e a lucidez num sonho prenhe de irregularidades, medos, bifurcações. Um voo veloz que nos edifica, destrói e reconstrói, nos leva a «flutuar» com o mensageiro «no fundo de um poço estagnado» onde as luzes nos vigiam antes de as procurarmos e podem assumir figurações de pedras preciosas; não obstante nos perseguirem, afugentarem e iluminarem nos intervalos da existência-persistência das memórias. A dada altura do chão e das tonalidades, nenhuma delas, provindas das estrelas, nos afectam; e, por isso, o mensageiro prossegue o voo, com as dúvidas, o desejo de reencontrar a comunidade que se esvai e recombina entre-os-tempos em ritmos diferentes, como numa cifra. Um pequeno grande intervalo musical, que separa duas notas essenciais, nós e as estrelas, para conseguir produzir uma relação entre elas. Movimento corajoso, receituário de um mundo inextinguível: um unive...