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Fragmentos


[disritmia]
Há dias que parece que estou em transe de confissão. A meses de apagar o sinal da internet, ou fechar uma página [as]social como agora se diz, como se estivesse a fechar a porta de uma casa de onde fomos despejadas, e, finalmente, deixar de ouvir o banzé de uns tamancos pavorosos e serôdios neste corredor do ciberespaço. 
Ir pelo cais fora e regressar à terra, molhada; voltar às pessoas, de osso, carne, saliva, veias, como à liberdade: imperativo. 
Escreveu Roland Barthes que "as palavras nunca são loucas, são, quando muito, perversas", é "a sintaxe que é louca".
Saber cedo que não há qualquer hipótese de ser atreita a cliques – defeitos ou efeitos de personalidade , faz com que queiramos abandonar a ideia de ter outros a falar por nós. Podia, assim, ter dispensado Barthes na frase anterior e as afinidades de Goethe. Isto é fundacional, tanto que o aprendi antes dos livros de ouvido por um dos meus avós. Não temo pela vida como pelo seu fim.
Há, ainda, uma diferença entre afinidade electiva e não ter a coragem de assumir um ponto de vista diferente ou próprio, mesmo quando, eventualmente, para isso temos de matar os nossos mestres.
Estou em contra-ritmo. 















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