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A mostrar mensagens de julho, 2022

Fragmentos

cílio esgar Antes ficava-se com a pobreza estampada no sobrolho. Hoje apaga-se do olhar do mundo sem esforço.  Olhos de febre acertam os tons  de contínuos sonhos na ponta da pinça.  Aparando violentas lamúrias,  últimas transparências num olhar  sem rosto, nem solo, gota de lama.  Havia nela permanência  vestidinho sempre engomado  submundo recatado pela idade  movimentos de reverência.  Labor negado às regras,  ao sabor da frialdade genética,  e o peso das botas de aço  desunhava a esterilidade.  Vincava o espaço entre a raiz da língua  e traqueia pelo gargalo desfasado  de uma garrafa vazia de pura seiva.  Miserável era o exterior,  paredes desonradas  atafulhadas de tinta  a rugir  míngua, indigência, sorte.  Se todas as goelas  abrissem como uma aba velha,  molhava nelas o bico.  Abria-se ao recomeço.  Qualquer cercania era alfobre  inseparável de confiança e ganância. Xana (Rádio Macau), leitura Saliva (edição Mariposa Azual , Julho 2022), no AH! Artes e Humanidades, espaço mul

Fragmentos

ao Barahona A quem Zeca cantou  Senhor poeta. Seus braços são como o vento, Ninguém o pode amarrar. Moçambicano indiano português amigo dos silêncios que falam  nas sombras de mãos limpas. Sôpro de mundos longínquos  Kanimambo pelos cafés e sinais de chávena:  asa para cima boca no prato, para baixo virada de lado, hesitando. Dizendo, como seu guia lhe ensinou: chega, beber um pouco mais, persistir, bebendo. Cúmplice de partilhas comuns  andorinhas, liberdade, cometas alimentados como duendes sem medo voar ou morrer.

Fragmentos

língua de chegada A língua, tal como os outros órgãos, nasceu permeável ao rebuliço do mundo. Quando cresceu tomou corpo de alguém que nasceu quando a guerra chegou ao fim e dedos ancianos vividos vencidos por tristezas violaram todos os preceitos do mundo. À noite recolhia-se onde houvesse milagreiros dispostos a absorver o calor. Depois disso aquele corpo tinha modificado o seu horizonte para sempre. E verter lembranças era saber de si além da criação, além do tempo. in Saliva , edição Mariposa Azual, Julho 2022.

Saliva, edição Mariposa Azual, Julho 2022

o primeiro alimento sólido Mastigava de boca fechada imaginando redondos os ciclos, um ornato protuberante circunscrito à vista dum quarto para a modorra. Trincava pão a esforço para dos dentes não distanciar ternura à corrente próspera ou saudade do pão de beijo migado sobrante pelo chão. Pelas entranhas voltava à farinha mãe. Estalando a língua com os maiores dedos de uma mão podia ser livre. Dizer não. E nunca responder. Nunca responder afirmativamente a desejos, crença, religião talvez por receio, muito receio, de neles nos afundarmos. Batia azeda a massa perdida, restaurada num ímpeto homens, mulheres, filhas filhos, irmãs, duro ar. Cedia corpo, palato, orientação, empurrando o fastio da boca num impérvio caminho de ganchos nefastos rente ao glorificado chão. Que desfaçatez dizê-lo no êxodo à indústria cereal de solo nosso durante fermentação biológica, aguada superlativa higiene nos afectos. A verdade é que o meu corpo reagiu. Malignamente. Sempre. A microorganismos atirados para