pentagramas da guerra
Nesta pauta bem se vê o que não contém.
Uma melodia a perder vigor, sons, silêncios
transfigurado mal em fenómeno desertor.
Tudo o que a pauta detém se dissipa
na escória mundana dos bem-afeiçoados.
Nós, os outros, nós nos outros
a sermos outros além de nós
e dos outros. Activos inatentos
à pauta fictícia da infinitude
superada uma e outra morte.
Todas as comparações do mundo imbecis são
o desastre ideólogo, as vítimas astros,
idealistas, vafros, cretinos na ocasião.
Na pauta vê-se pouco do que convém.
Depois do Outono alguém limpará ritos mudos.
Os arranjos afinal não se arranjam sozinhos,
nem as gavetas, as caixas de música,
os vivos cadáveres refugiados.
Todas as anástrofes do mundo são cretinas
porque houvesse memória em nós do instinto teu
a guerra seria fruto não comestível,
caducos os misantropos, os intransigentes,
essas fundamentalistas mnemónicas.
Moogs no fundo da noite pior oscilaram
reverberam no grés, a polir ditongos solertes
despontaram sons conhecidos pelo pilar das lembranças,
porventura restituídos em grutas suspeitas
ribombadas lágrimas frescas à monofobia.
No dia da noite melhor, ao inalar chá de ervas secas
novíssimos equipamentos tecnológicos
auscultavam o futuro sensitivo por via do pranto,
possíveis marcas de poesia e humanidade
que aqui, aí, pudessem existir.
O golpe hipnótico terá acontecido mais cedo.
Não houve transe, tão-pouco circularidade
prontos a negar dois velhos acordes imperfeitos:
é guerra e paz, guerra à paz.
Inevitável é recordar o império de sangue.
Por não quereres emprestar cólera,
corpo, a roxa incerteza, sabendo,
de quem te pôs ao leme da fina consciência,
que bem-disposto se mantém
no sortilégio enigmático do desencontro.
in Saliva
fotografia Rui Almeida
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