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Fragmentos

Chega, liberta, aprisiona
Gasta os domingos à procura
Do prazer e de fugir à dor 
Mutáveis passageiros. 

Alguém lhe diz que vive 
Só, nas coisas imutáveis. 
Chamo-lhe pavor, de amor 
Pouco digno quando digno. 

Imaginado, não vivido 
De uma prática inexistente 
Um estranho fantasiado 
Omnipresente, elaborado. 

Da paz e do bem-estar 
Supõe poder, tranquilidade 
Ouço-lhe, na voz árida 
A resignação dos loucos 
Pouco, nada, esclarecidos. 

À sorte, iludido pela fé 
O sabor, o cheiro, a semana 
Marca presença no vagão-bar 
De pé, balançando o corpo 
As melhores palavras são arrastadas
Pelo tempo.




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