Avançar para o conteúdo principal

Fragmentos

Mulher de Algas desenho de Elagabal Aurelius Keiser em tinta-da-china sobre papel de arroz.
Algumas das livrarias independentes onde encontrar:

- Tigre de Papel
- Flâneur
- Snob
- Distopia
- Culsete
- Ler Devagar
- Miosótis


~~~~~

"[...] Foi há quinze anos, vinda de uma Londres já inexistente, que aqui aterrou. Procurava algas na SoHo lisboeta, e anéis de prata em pedra turquesa no ourives que fechou sete anos depois. A pedra azul era rara e trazia sorte e paz segundo persas numa loja antiga que descobri em solo britânico e li no ano anterior de forma sequiosa. Avidamente ou saudosamente, ainda que deteste a palavra saudade, por cheirar que tomba a nacionalismo.

wakamé

Bicho bicha amarga
migalhinha comichosa
entre-dentes quebrando
tal malga, miso e couves.

Descíamos ao Leteu.
Mulheres de algas
presas em longas caudas
bebiam para esquecer
enquanto gritavam a Saturno
nada ter sentido
sequer existido
dissolventes
como rio entre-risos.

Esmagava-as na chuva de peixe.
com parcos gestos, desarraigando signos
onde almas faladoras superiores
de fala inferior
desagregadas da expressão
por via dos sentidos comuns
desapareciam todos os meses [...]"
_________
*Colecção ثريا
autora: Soraia Simões de Andrade
composta por 7 cadernos - livrinhos
I, Abril de 2023
Paginação: Fernando Ramalho





Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fragmentos

O Imenso Comércio do Nada XX   É preciso esquecer para que tudo volte como novo Há momentos em que apetece deitar fora todos os fonogramas recentes com extensas durações de notas musicais para fazer o que uma só faria, ou, meramente, não deixar vir, eliminar antes que se entranhem, como apaguei há duas décadas o açúcar branco e a carne.  Por vezes parecem tentativas preocupadas apenas em manter os becos sem saída de outros, uma obstinação do tradicionalismo; uma tradição que se gozou de vanguardismo foi por não ter pretensões e não almejar ser canonizada. Uma tradição cuja face mais visível até podemos transferir para o presente sem nenhuma demanda extraordinária estilando-a por aí e cantando ao céu, ao sol, à chuva, ‘aqui estou eu fora do resto’. Camaradas, não estamos fora do resto se tudo hoje forem restos de restos de outros momentos e de outros gestos.  Quem passou por um conservatório fora da capital, nos anos oitenta e noventa do século passado, viu-o suspenso no tempo anterior

Fragmentos

          O Imenso Comércio do Nada VIII À procura da Ideologia democrática enquanto trauteia Cuidado Casimiro, cuidado Casimiro cuidado com as imitações...         A democracia tem cancro.   Se todos os pensamentos são fluxo é intolerável pôr-lhes uma cerca.      Num meio pós-cultural tão exíguo como o português, muitas das mulheres que exibem como pensam fazem-no sob o jugo da adaptabilidade. Mi steriosas, guardam todos os trunfos para quando acharem melhor  tirar o tapete às falsas contrapontorias de quem nunca largou o reino da mediocridade humana, nem famílias com heranças nefastas ou as uniões de factos sociaizinhas. Toda a mulher sabe que ser chulo social é uma grande valência, não interessa tanto a vocação, a aptidão,  a magia de ser sem cedências. Sabe que num ambiente assim, importante para um chulo é passar de fininho pela vida, evidenciar a sua existência fingindo que a viveu para lá das ruminações características das psicoses, não deixam de ser formas de vida  humana, tal

Fragmentos

O Imenso Comércio do Nada XIII:  moral intergeracional Ontem no café do meu bairro um vizinho, ex-militar, combatente de Abril, dizia-me no seu jeito encanitado: – O activismo de hoje crê ser o grande beneficiário do progresso. Acenei mais ou menos afirmativamente, mas com uma provocação: – O senhor estaqueou o andamento no Bloom d’ A Cultura Inculta ? Terei dito algo mais, circunstancial de certeza, não consigo sequer lembrar para poder reproduzir. Acho que o compreendo melhor hoje do que há um ano, altura em que me mudei para este bairro. Cada vez mais fala-se muito sobre pouco, é um falar à superfície, uma fala reservada sempre que se pode; garantindo alguma inviolabilidade a uma espécie de teleologia que se reconstrói ou metamorfoseia amiúde (sintomas de uma patogenia chamada capitalismo, diria um amigo). Sentem algum desdém pelos combatentes de Abril? Parece-me, antes, que tendemos a sobrevalorizar uma militância que uns tiveram certamente mas outros não, colhendo até hoje frutos