A eclosão da primeira grande guerra encorajou reacções em cadeia, e foi a essas reacções que ficámos presos desde então, porque ninguém teve grande capacidade ou vontade de as largar. Deve ser por isso que uns certos e umas certas demissionários partidários têm insistido tanto na terceira guerra mundial; procurando esquecer que as duas guerras mais sangrentas da História foram seguidas de migrações, gente que nem podia ser assimilada nem era bem-vinda, quando deixava a sua terra continuava sem terra, quando deixou de ter direitos ficou sem direitos, quando deixou de ter pátria era apátrida. Às vezes é preciso criar uma mnemónica como quando éramos imberbes e os saberes humanistas mais básicos eram colados no dia anterior de um teste de avaliação sumativa. Ou isso ou o silêncio do lado de lá do espelho.
O imenso comércio do nada XXVI Talvez nos pareça ainda que uma das mais potentes formas de contracultura a partir dos anos dois mil seja o uso da internet. Sítio de poucas cedências ou barreiras, goza de similitudes com as demandas utópicas e libertárias da geração de sessenta; a mesma aura dos espíritos contestatários e livres de divisões classistas, porém, e mais cedo do que eventualmente previra, como sucedera a outras derivas antes do virtual, também essa ideia foi capturada por uma cultura reformatória e conformista. O interesse crescente por discos e livros de um período da história ou de outras latitudes geográficas traduzirá certamente o apreço por assuntos como os da coacção da censura e resistência ao salazarismo ou outras ditaduras, as críticas a uma ortodoxia neo-hiper-realista, os imperativos arquivísticos e éticos da literatura e da música proibidas e, de modo um pouco mais subtil, o sujeito poético em comunhão com a mimesis quotidiana , a recriação imaginária a partir...
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