A eclosão da primeira grande guerra encorajou reacções em cadeia, e foi a essas reacções que ficámos presos desde então, porque ninguém teve grande capacidade ou vontade de as largar. Deve ser por isso que uns certos e umas certas demissionários partidários têm insistido tanto na terceira guerra mundial; procurando esquecer que as duas guerras mais sangrentas da História foram seguidas de migrações, gente que nem podia ser assimilada nem era bem-vinda, quando deixava a sua terra continuava sem terra, quando deixou de ter direitos ficou sem direitos, quando deixou de ter pátria era apátrida. Às vezes é preciso criar uma mnemónica como quando éramos imberbes e os saberes humanistas mais básicos eram colados no dia anterior de um teste de avaliação sumativa. Ou isso ou o silêncio do lado de lá do espelho.
O Imenso Comércio do Nada XX É preciso esquecer para que tudo volte como novo Há momentos em que apetece deitar fora todos os fonogramas recentes com extensas durações de notas musicais para fazer o que uma só faria, ou, meramente, não deixar vir, eliminar antes que se entranhem, como apaguei há duas décadas o açúcar branco e a carne. Por vezes parecem tentativas preocupadas apenas em manter os becos sem saída de outros, uma obstinação do tradicionalismo; uma tradição que se gozou de vanguardismo foi por não ter pretensões e não almejar ser canonizada. Uma tradição cuja face mais visível até podemos transferir para o presente sem nenhuma demanda extraordinária estilando-a por aí e cantando ao céu, ao sol, à chuva, ‘aqui estou eu fora do resto’. Camaradas, não estamos fora do resto se tudo hoje forem restos de restos de outros momentos e de outros gestos. Quem passou por um conservatório fora da capital, nos anos oitenta e noventa do século passado, viu-o suspenso no tempo anterior
Comentários
Enviar um comentário