Falta ignição ao mundo dos sentidos, uma percepção das sombras e dos movimentos lânguidos. Quando os corpos deixam de se emocionar com a convivência, o mundano, talvez estejam já a guardar o melhor de si para outro mundo, pelo menos os que acreditam; para os que não acreditam em nada o remédio é deixar-se morrer todos os dias um pouco ao pensar que vão desaparecer, cerzir o tédio e disfarçar a dúvida é para almas fracas, as que não sabem o que fazer ao tempo...
Amélia Muge com Samora Machel, 1975, Maputo fotografia de António Quadros* O passado por pouco que nele pensemos é coisa infinitamente mais estável que o presente … Marguerite Yourcenar Arrastando tempestades Que nos fustigam as carnes Desfazendo com uivados O que foi a nossa imagem Resto de nós, quase aragem… Amélia Muge Mas, eu assim o quis! F. Nietzsche Breve resumo A mélia Muge (n.1952) é uma artista polifacetada. Intérprete, compositora, poeta, ilustradora. É também historiadora de formação, e talvez isso explique algumas das suas opções estéticas, como se verá. Sujeito de um contexto social e de um universo artístico especiais – como o são todos, dirão, e tendemos a concordar – marcados por descontinuidades com modelos de produção musical e de recepção precedentes, com continuísmos de índole ideológica e sociocultural. Imprime, numa primeira fase, uma linguagem nitidamente engajada ideologicamente e, numa fase sucedânea, dinâmicas entre palavras. Na sua criação convi...
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