Falta ignição ao mundo dos sentidos, uma percepção das sombras e dos movimentos lânguidos. Quando os corpos deixam de se emocionar com a convivência, o mundano, talvez estejam já a guardar o melhor de si para outro mundo, pelo menos os que acreditam; para os que não acreditam em nada o remédio é deixar-se morrer todos os dias um pouco ao pensar que vão desaparecer, cerzir o tédio e disfarçar a dúvida é para almas fracas, as que não sabem o que fazer ao tempo...
O imenso comércio do nada XXVI Talvez nos pareça ainda que uma das mais potentes formas de contracultura a partir dos anos dois mil seja o uso da internet. Sítio de poucas cedências ou barreiras, goza de similitudes com as demandas utópicas e libertárias da geração de sessenta; a mesma aura dos espíritos contestatários e livres de divisões classistas, porém, e mais cedo do que eventualmente previra, como sucedera a outras derivas antes do virtual, também essa ideia foi capturada por uma cultura reformatória e conformista. O interesse crescente por discos e livros de um período da história ou de outras latitudes geográficas traduzirá certamente o apreço por assuntos como os da coacção da censura e resistência ao salazarismo ou outras ditaduras, as críticas a uma ortodoxia neo-hiper-realista, os imperativos arquivísticos e éticos da literatura e da música proibidas e, de modo um pouco mais subtil, o sujeito poético em comunhão com a mimesis quotidiana , a recriação imaginária a partir...
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