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Quando a utopia é resgatada pelo poder, domesticada, se lhe bota um laçarote, mesmo que este seja ainda um poder flácido, e talvez nunca deixe de o ser embora aspire outros supedâneos, paga uma factura pesadíssima.
As pessoas entram numa capela oclusiva, deixam de ter iniciativas por si, o poder passa a organizar-lhes tudo; mal a pessoa burile uma ideiazinha mais utópica, qualquer coisa que liberte, tem-no à perna, a fazer a folha, a passar à frente, a organizar tudo de modo mui relutante de forma a levar o seu séquito de fiéis indistinguíveis, o rebanho em suma, a crer num manifesto urdido e amanhado pela rama, o qual, na realidade, para os mais observadores se desfaz num sopro porque era já débil antes de se manifestar.
Abrir bem os olhos como quem abre a cabeça ao mundo desconhecido tornou-se imperativo, mais do que sub-interpretações do desconhecido.
A finalidade do poder flácido nunca foi nem será derrotar estruturas, mas habitá-las, não necessariamente para reconstruir uma mais justa, antes para reiterar a confiança na que existe evidenciando-se. O futuro é um simulacro, a emancipação uma figura de retórica balofa; a sua condição natural, assim como daquela que a ofender, será flutuar de costas a apreciar a paisagem, enquanto os restantes morrem, ou já nem flutuam, escondem a cabeça dentro de água para esconder o que pensam.
Não foi também Guy Debord quem nos disse que uma das principais contradições da burguesia na sua fase de liquidação era respeitar as criações artísticas opondo-se logo a seguir às mesmas para depois usufruir delas?
Deixo três questões, ruminai:
Não é sempre para o poder flácido a preocupação com o quotidianidade, os costumes, o comezinho onde mergulharam, que conta e não a melhor realização dos humanos? Dividir vedando o que é interdependente não é absolutizar? Para se considerar excelso, não se deveria fugir à profanação da publicação e exibição públicas?
A exterioridade não é sagrada...
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