Avançar para o conteúdo principal

Fragmentos

 ___
facínoras, hein?

Arapuca de bambu
Cutucada no melro.

Compus no seguimento
de uma frase musical
laços cínicos, desejados
pela forma. Da mesma forma
de sempre.

O cinismo começa a ser,
de resto, a par da memória
e da inteligência artificial,
a melhor faculdade humana 
deste século. A melhor.
A pior 
talvez seja 
o excesso de pudor.

No princípio eram símbolos e ética.
No fim era autonomia
(direitos e escolha).

Os rituais deram lugar ao destino.
O sagrado deu lugar ao profano.
As orações deram lugar aos narcóticos.
A crença deu lugar à medicina.
O debate deu lugar ao cancelamento.
O confronto deu lugar à culpa.
Resta o desconforto 
e um divã eutímico.

Acúleo 

Acúleo no bancamp: https://aculeo.bandcamp.com/album/ac-leo
Acúleo no Instagram: https://www.instagram.com/aculeospokenword/
Acúleo no Facebook: https://www.facebook.com/aaculeospokenword/
Vídeos Acúleo: https://www.youtube.com/@aculeospokenword/

Que quimera é, então, o homem, Pascal? E a mulher?
Que perversa, cruel, caótica, que prodigiosa!
Juíza de todos os temas e não temas,
lombriga substituta,
reservatório da verdade e da inocência,
fossa de incerteza e do erro,
da glória e da escória do planeta...

● intro-quimera
● manietar o mal
● verdes foram os anos
● facínoras, hein?
● osga
● natrix
● mal altruísta
● mondego
corpo finito

______


https://aculeo.bandcamp.com/album/ac-leo



_____


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Fragmentos

  Amélia Muge com Samora Machel, 1975, Maputo fotografia de António Quadros* O passado por pouco que nele pensemos é coisa infinitamente mais estável que o presente … Marguerite Yourcenar   Arrastando tempestades Que nos fustigam as carnes Desfazendo com uivados O que foi a nossa imagem Resto de nós, quase aragem… Amélia Muge Mas, eu assim o quis! F. Nietzsche Breve resumo A mélia Muge (n.1952) é uma artista polifacetada. Intérprete, compositora, poeta, ilustradora. É também historiadora de formação, e talvez isso explique algumas das suas opções estéticas, como se verá. Sujeito de um contexto social e de um universo artístico especiais – como o são todos, dirão, e tendemos a concordar – marcados por descontinuidades com modelos de produção musical e de recepção precedentes, com continuísmos de índole ideológica e sociocultural. Imprime, numa primeira fase, uma linguagem nitidamente engajada ideologicamente e, numa fase sucedânea, dinâmicas entre palavras. Na sua criação convi...

Fragmentos

  O Imenso Comércio do Nada XXI Interessa mais mostrar ao que se vem que zombar ministrando quem já lá estava Vivemos numa altura de rebaixamento de todo o gestuário possuído de frenesim filantropo. Não muito distante de outras fases convulsivas da história; possivelmente muitas pessoas gostam de acreditar que estão a viver o seu próprio poema épico. Vejamos, estão na sua senzala imaginária erguida no interior de baldios ou assumidamente na casa-grande (não é aqui que está o demi-monde? Será o pàrvenú?) suprimem à história o que ela é: realidade, conquista, guerra, conflito, limpam do logradouro duas sublimações espetadas à entrada, Cuidado com a Cadela! e o fraseado do  historiador britânico Eric Hobsbawn, qualquer coisa como: ‘o historiador é aquele que relembra à sociedade aquilo que ela procura esquecer’. Em alturas de insurgência artística, por exemplo, os incendiários parecem estar todos na casa-grande, varre-se dos pinhais a memória e começam a assenhorar-se do terreno...

Fragmentos

O Imenso Comércio do Nada XX   É preciso esquecer para que tudo volte como novo Há momentos em que apetece deitar fora todos os fonogramas recentes com extensas durações de notas musicais para fazer o que uma só faria, ou, meramente, não deixar vir, eliminar antes que se entranhem, como apaguei há duas décadas o açúcar branco e a carne.  Por vezes parecem tentativas preocupadas apenas em manter os becos sem saída de outros, uma obstinação do tradicionalismo; uma tradição que se gozou de vanguardismo foi por não ter pretensões e não almejar ser canonizada. Uma tradição cuja face mais visível até podemos transferir para o presente sem nenhuma demanda extraordinária estilando-a por aí e cantando ao céu, ao sol, à chuva, ‘aqui estou eu fora do resto’. Camaradas, não estamos fora do resto se tudo hoje forem restos de restos de outros momentos e de outros gestos.  Quem passou por um conservatório fora da capital, nos anos oitenta e noventa do século passado, viu-o suspenso no ...