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Fragmentos

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Creio que todas as doutrinas têm valor adaptativo. Quando têm como coxim as redes sociais, amplificam as redes morais que as precedem, nobilitam novas ordens sociais insinuando aos seus novos-velhos discípulos – cibernautas – que é assim a agremiação; é assim porque tem de ser assim, não há outra maneira de ser, é fruto da vontade divina, é a crença do grupo, é do domínio da fé e do dever, faz parte da ordem existente no céu e na terra, na família e no trabalho. E se tais regras forem quebradas um vulcão entrará em erupção em virtude das forças internas, do bem e do sagrado, ou seja, as distinções sociais serão desfeitas e à ordem de uma lei dará lugar a ordem anárquica. 
Foi sempre a fome da violência que se edificou perante quem não se quis submeter à disciplina e ousou questioná-la. Ou não?
Girard dizia que o bode expiatório é um mecanismo por meio do qual uma sociedade afasta de si a violência: concentrando-se numa vítima exterior.
Por aqui se vê todos os pecados no rosto de outros. A gente começa a suspeitar que tudo isto – isto da desocultação da violência via redes no digital – é não mais que uma manobra para esconder a mediocridade e desumanização dos enunciadores.
[na imagem um dos meus rochedos: Laurie Anderson, por Annie Leibovitz]

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