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ANDO]
Qualquer empedrado, mesmo um caminho de cabras, pode ser considerado uma obra valiosa; uma jóia, um coral num mar límpido. Nesta fotografia há uma estrada calcetada que servira passagens seguras durante o crescimento quando um incêndio num barracão contíguo ao de uns vizinhos nos destruiu todas as utopias.
Desde esse infortúnio que nesta estrada foi instaurada a insegurança; e o medo de a percorrer faz-nos agora optar por caminhos alternativos.
Há alturas em que ainda fazemos um esforço para ver a outra velha estrada, como se ela fosse nova. Em síntese, como se fosse segura com o cheiro a alcatrão fresco, misturando contornos, salientando irregularidades.
Então, vemos o sítio onde aprendemos a andar: sozinhas primeiro, em grupo depois, ah e também a viajar de carro a horas tardias, ou à pendura, de motorizada, ao princípio dum novo dia sem que o anterior tivesse ainda terminado.
Havia uma mulher, que certos homens diziam ser linda porque diferente, de olhos fundos e rasgados, cabelo pintado de preto violeta, pernas magras, exótica, com cerca de vinte anos à beira daquela estrada, parecia perdida, mas não estava. Era uma mulher de vinte anos muito velha, embora o corpo não o indicasse, tão velha que hoje, a quatro anos de fazer cinquenta, continua a parecer tão velha como naquela altura.
Todas as outras raparigas que encontrava nessa estrada a horas [que nos diziam] impróprias foram morrendo ou desaparecendo, talvez tenham ido também para outras pontas da cidade onde aquela estrada irrompera segura durante um certo tempo.
Aquela estrada só se tornou bonita por que dela brotou uma duradoura e silenciosa companhia. E é na companhia que a segurança começa e na ausência de companhia que ela acaba.
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