Rui Almeida está com Soraia Simões de Andrade.7 de Agosto«Bela surpresa, este 'Saliva' (Mariposa azual, 2022), [...] livro de poesia da SORAIA SIMÕES DE ANDRADE.Num tempo em que tanto se insiste (até à agonia e à ilegibilidade, por vezes) na síntese epigramática e na suposta virtude do "menos é mais", a Soraia arrisca na expansividade e na profusão vocabular, recorrendo abundantemente a palavras rebuscadas e a frases de construção complexa. Arrisca e, quanto a mim, alcança, em grande parte dos poemas, uma força de linguagem que não se fecha em si mesma, mas que suscita imagens e questões. O recurso continuado à primeira pessoa poderia indiciar uma poética exclusivamente autocentrada, confessional, comezinha. Mas não. Embora haja frequentes referências ao contexto próprio daquela voz que nos interpela, o teor dos poemas acaba sempre por se alargar a um âmbito mais social, mais público, sem dúvida com uma marca política. E tudo isto num ambiente deliberadamente incómodo, com uma intencional marca de estranheza e provocação, através das tais palavras rebuscadas, ao serviço de uma ironia contida e de um certo absurdo, que poderá muito bem radicar no tão peculiar surrealismo de Zeca Afonso. No meio disto tudo, mais ou menos subtilmente, cruzam-se referências eruditas e populares, ecos de ruralidade e de sofisticação, o presente e o passado, a solidão e o encontro. Uma voz muito própria, talvez a precisar de ser mais segura, mas com um fôlego indiscutível.»
Rui Almeida está com Soraia Simões de Andrade.7 de Agosto«Bela surpresa, este 'Saliva' (Mariposa azual, 2022), [...] livro de poesia da SORAIA SIMÕES DE ANDRADE.Num tempo em que tanto se insiste (até à agonia e à ilegibilidade, por vezes) na síntese epigramática e na suposta virtude do "menos é mais", a Soraia arrisca na expansividade e na profusão vocabular, recorrendo abundantemente a palavras rebuscadas e a frases de construção complexa. Arrisca e, quanto a mim, alcança, em grande parte dos poemas, uma força de linguagem que não se fecha em si mesma, mas que suscita imagens e questões. O recurso continuado à primeira pessoa poderia indiciar uma poética exclusivamente autocentrada, confessional, comezinha. Mas não. Embora haja frequentes referências ao contexto próprio daquela voz que nos interpela, o teor dos poemas acaba sempre por se alargar a um âmbito mais social, mais público, sem dúvida com uma marca política. E tudo isto num ambiente deliberadamente incómodo, com uma intencional marca de estranheza e provocação, através das tais palavras rebuscadas, ao serviço de uma ironia contida e de um certo absurdo, que poderá muito bem radicar no tão peculiar surrealismo de Zeca Afonso. No meio disto tudo, mais ou menos subtilmente, cruzam-se referências eruditas e populares, ecos de ruralidade e de sofisticação, o presente e o passado, a solidão e o encontro. Uma voz muito própria, talvez a precisar de ser mais segura, mas com um fôlego indiscutível.»
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