Marguerite Duras, ao pé da Marguerite Yourcenar, que escreveu de modo desassombrado a sexualidade, e sobre tudo: o amor livre, o feminismo, a orientação; era uma colegial; dura, homofóbica. Como, de resto, o filme de Claire Simon (em Lisboa está no Cinema Ideal e aconselha-se) veio reforçar.
No entanto, há dois livros de Duras que marcam a minha juventude, um deles, L'Amant.
Apodrecer no armário teve, não tem sempre?, efeitos concretos na vida como na arte.
Yourcenar era uma escritora enorme. Fora das quadrículas e teomitias.
Libertemo-nos do mofo, que o medo da inversão sexual só se for em Radclyffe Hall ou Pessoa [iniciático] que era muitos.
À medida que envelhecemos, depois de ler tanta livrada, diversa, voltar a eles, mas em especial a ela, mais que desejado. Ambos queer, ambos sem filtros sobre a sexualidade, antes da capitalização da coisa, quando era um escândalo com consequências graves para quem escrevia sobre.
Yourcenar é futuro, é retorno ao paradigma clássico como fuga ao contemporâneo, ao caduco, ou académico. Não conheci ainda escritora nenhuma tão arrojada como ela foi.
A Obra ao Negro é um romance do Maio de 68, sobre a podridão e a opressão das sociedades, ao mesmo tempo que é obscura e medieval no modo como é construída. Centra-se na sociedade secreta dos irmãos do livre espírito que foram uns punks medievais. Ela consegue mimetizar todos os estilos da época e criar, a partir daí, o seu. E, no entanto, não tinha sido formada pela escola, apesar de aos dez anos já saber latim e grego através do pai, foi quem lhe ensinou quase tudo. O pai. Com o qual tinha uma relação intensa: um playboy, torrou a fortuna, o que fez com que ela ficasse sem nada quando ele morreu chegando a viver na rua. Podemos não descrever o que somos, mas escrevemos com o que somos.
Sempre tive uma empatia grande 'pela' Yourcenar.
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