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Fragmentos

[na imagem, Shakespeare in Coriolanus, I. 95-156.]
Na transformação abrupta das relações, mesmo os olhares mais treinados, tendem a descurar a teleologia dos sexos, mais preocupados que estão em 'analisar' aparências de uma teleologia nos arranjos políticos e sociais. Toda a teoria que procure explicar os seres pelos fins a que a aparência os destina, tem um grande potencial para produzir grandes ilusões.
Da mesma maneira, todas as vanguardas foram rupturas que nos aproximaram da vida, e de uma libertação, agora esta ideia de que se está a abrir uma porta já aberta, de a voltar a abrir de novo, não faz sentido. A pós-cultura tornou-se este folclore burguês, uma cristalização, um retrocesso a algo que não se entendeu, mas com uma aparência chique reaccionária...



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