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Fragmentos







Diz que é uma rubrica digital, uma conversa ao correr das músicas, sem guião, minha e do Bruno Peixe Dias, com edição do músico Paulo Lourenço. 
Podem ouvir o primeiro episódio experimental aqui
Produção

Conversas anartísticas sem guião pontuadas por histórias e músicas entre dois autores melómanos; às quais se juntam, algumas vezes, outros autores melómanos indiferentemente da disciplina artística em que laboram.

Não existe diferença sem mimese, nem nada que não o seja: diferente.
É de letras e poemas musicados, de músicas sem os vocábulos do léxico, de sonidos ou vocalizações, das mais veladas às mais guturais, de editoras e de streaming, de canções — em locais emparedados e sem paredes —  dialogistas em experiências distintas, ora como participantes delas ora como ouvintes remotos de matrizes sonoras maternais, e, por isso, não menos indisputáveis nos nossos percursos, que falamos — tentaremos pouco, que estamos cansados de nos ouvir –  a premissa é voltar a escutar esses fonogramas, recuperar histórias tentando reproduzir o entusiasmo daquela primeira vez que fomos tocados pelos primeiros acordes de um disco ou os que não nos entraram nos tímpanos nem à lei da bala apesar de anos mais tarde não os conseguirmos largar.
Nenhuma banda nasceu de geração espontânea, nenhuma filosofia, sequer deidade simbólica, é indestrutível. 
Todas as alturas em que matamos os tempos rebeldes aos discos e aos livros; para neles enrijecer e reconstruir a memória, pessoal ou colectiva, e os muitos chãos pisados entre concertos, danças, projectos edificados, aqui convergem. Alturas, em que podemos mudar as lentes, renovar a graduação, reajustar as agulhas do prato e as tonalidades discursivas, juntando as votadas ao desprezo e deixando umas tantas naquele outro lugar da estante improvisada num barracão granítico ao qual não desejamos regressar.

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